Vegetais saudáveis ou “hot-dogs”? – como e porque escolher a primeira opção # 26

Enviado porSeed4Life emter, 30/03/2021 - 10:00
# 26

Um número cada vez maior de profissionais e entidades de medicina e nutrição recomendam adotar uma dieta alimentar saudável. Por diversas razões: porque é bom para sua saúde, meio ambiente e bem-estar animal, entre outros. Mas vamos aqui focar apenas os efeitos na saúde. A combinação “alimentação desregrada e inatividade física” resulta na maior parte dos casos em sobrepeso e obesidade – e estes são fatores de risco para múltiplas doenças crônicas. Mas com fatos tão óbvios e comprovados, por que parece ainda difícil entender a necessidade de mudar?


Em parte, porque para a maioria das pessoas é difícil entender as associações em cascata envolvidas nesse tema. Desde a associação ‘dieta x obesidade’ ou ‘dieta x doenças crônicas’ e, finalmente a associação que seria a mais importante: “com as atitudes que tomamos”. Talvez também porque as doenças crônicas têm longa gestação e são assintomáticas por longo tempo. Levam ao ceticismo - e esse é inimigo da ação consciente - e também à inércia, à tolerância com a tradição (“meus pais, meus avós comiam”), à rejeição desta associação tão óbvia e até ao desdém das ideias saudáveis e de quem as pratica.  
Como consequência, manter uma alimentação não saudável terminará, com grande probabilidade, deixando marcas e sequelas em seu corpo. Falamos de causa “aleatória” (regida pela sorte ou azar) e não de causa e efeito. Por isso, tendemos a crer que o “azar” cairá sobre o vizinho e não sobre nós.


Enquanto isso a medicina avança. Pesquisas científicas desvendam relações claras de causa e efeito e seus mecanismos de atuação, permitindo que se desenhem ações que enfrentem o problema.  Mas por onde começar? A hipertensão que afinal foi causada pela obesidade? Ou a própria obesidade como matriz dessa e outras doenças? O diabetes e a obesidade ou, ainda, os fatores de risco que levam à obesidade? As ateromatoses e o colesterol ou os hábitos de comer bacon? 


São questões difíceis até para os especialistas de ministérios da saúde de diferentes países. Mas, uma vez escolhido o problema a ser atacado, a próxima escolha é com qual procedimento: cirúrgico/farmacológico (medicina convencional) ou mudança nos estilos de vida (medicina integrativa)?


Os caminhos que a medicina desenvolveu incluem medicamentos para manter – apenas do ponto de vista farmacológico - a pressão arterial estável, controlar o peso do obeso e a glicemia no diabetes, reduzir o excesso de colesterol através de manobras químicas, suprimir a secreção ácida fisiológica do estômago, e finalmente os procedimentos cirúrgicos, que mesmo pouco invasivos são sempre de intervenção (como desobstruir artérias através de estentes). 


Analisando este último, a desobstrução de uma coronária (artéria do coração) pode ser tentada com medicamentos, substituição da parte obstruída por outra retirada do corpo (ponte de safena) ou pela utilização de um estente – expansor tubular colocado no local obstruído. A via clínica - ainda da medicina convencional - tenta com medicamentos extras e mudanças pouco radicais de hábitos (abster-se de fumar, reduzir ingestão de álcool, reduzir consumo de gorduras), suficientes para mitigar a intensidade da doença. E este protocolo vale para todas as doenças crônicas que conhecemos! 


Lembremos que apenas 10% do nosso estado de saúde depende da tecnologia médica, indispensável para curar quadros agudos. A tecnologia sabe com fazê-lo e como se remunerar pelos serviços prestados - normalmente de alto custo. Mas aquela doença, tratada de forma intervencionista, se desenvolveu porque nossas atitudes durante anos assim o permitiram. 


As evidências estatísticas mostram que metade daquilo que entendemos como “estado de saúde” depende de nós mesmos, do que comemos, de nossos sentimentos e atitudes frente ao estresse, como a prática de meditação – em nossos estilos de vida.
Caminhos alternativos e ainda pouco difundidos, como a medicina integrativa e medicina de hábitos de vida, estão surgindo. Propõem atuar nas causas básicas que levam ao desenvolvimento da doença. Almejam que um dia migremos como sociedade, rumo a uma ‘epidemia da saúde’ - uma sociedade saudável, com baixa morbidade, via promoção da saúde que reduza a chance de adoecimento. Como diz o bordão: prevenir é melhor do que remediar. 


Não estamos, portanto, que fique bem claro, negando a validade a qualquer um dos métodos da medicina – eles salvam vidas. Casos haverá em que as possibilidades de escolha ficam bem restritas. Uma obstrução arterial na iminência de causar infarto, precisará de intervenção imediata, cirúrgica ou por estente, porque ficou tarde para o caminho preventivo (prevenção primária) que, no entanto, pode ser posterior à intervenção (prevenção secundária). 


Já em uma obstrução coronária parcial, com baixo risco de infarto iminente, o paciente poderá ter tempo para refletir e escolher, sempre junto com seu médico. E os resultados clínicos e científicos são animadores!


Podemos escolher. Às vezes será entre os vegetais e o hot-dog, a satisfação imediata de um paladar formado em décadas ou o investimento em novos hábitos alimentares e de vida, que reduzam a necessidade de intervenção farmacológica ou cirúrgica.
Como agimos diante de opções como essa? Comer comida que achamos “gostosa” em grande frequência e quantidade oferece a recompensa do prazer imediato, mas no tempo ela gerará obesidade, doenças crônicas, invalidez e morte. Ainda assim, existem relatos de pessoas obesas que se esforçaram para aumentar o Índice de Massa Corporal (IMC) para se tornarem elegíveis a uma cirurgia de redução do estomago. 


Alguém um dia imaginou que o bisturi seria a solução rápida, instantânea e quase mágica, da obesidade. Mas teria sido essa a escolha do paciente se ele soubesse de fato das consequências do pós-operatório? Entre elas, as limitações na ingestão de alimentos, necessidade se suplementação diária e vitalícia de vitaminas e suplementos diante da menor absorção pela redução do estômago, riscos de úlceras e sangramento, e o pior: a chance de voltar a engordar esse ele mantiver os mesmos hábitos. 
Não teria sido mais fácil seguir, desde o início, o caminho da mudança de hábitos – que é o mesmo e inevitável para manter o peso após a redução?


Não quero negar a validade da cirurgia – necessária em certos casos -, mas o que ocorreria se nos dedicássemos mais a estimular o paciente com informações valiosas sobre suas escolhas e consequências? Em posse desse conhecimento, não teria ele escolhido o caminho da prevenção, mais difícil no começo, mas mais gratificante e prazeroso ao final? 
Se as medicações não tivessem efeito colateral, poderíamos tomar um coquetel de antivirais e antibióticos no café da manhã para nos prevenirmos contra infecções virais e bacterianas. Não seria maravilhoso, especialmente em tempos de pandemia? Mas qual insano recomendaria ou seguiria essa atitude?


Houve muitos padrões alimentares através dos tempos, em diferentes eras e culturas do mundo. Até metade do século XX, os padrões predominantes eram baseados em produtos vegetais, frescos e não processados. Nos últimos 40 anos, com maior abundância de alimentos e capacidade de estocagem, migramos para dietas ricas em açúcar, gordura, proteína animal e produtos processados.  


Por esta e muitas outras razões, entre todos os hábitos saudáveis sempre destacamos os alimentares, mesmo sabendo que não são os únicos a serem redesenhados. Não existe “um conjunto certo de hábitos saudáveis ou uma forma correta de alimentação”. O que ocorre no mundo de hoje em termos de alimentação definitivamente não está produzindo a desejada “epidemia da saúde”, mas sim a pandemia de obesidade e doenças crônicas, apontadas pela Comissão-Lancet como “o maior desafio de saúde do século 21”. 


Precisamos fazer melhores escolhas para o bem de nossa saúde e de nossas comunidades, da sustentabilidade dos sistemas de saúde e do meio ambiente.

 

Fonte:

https://doi.org/10.1038/s41598-020-75213-3

 

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