Enfermeiras: porque precisamos tanto delas # 28

Enviado porSeed4Life emter, 06/04/2021 - 15:00
# 28

Este blog presta homenagem às enfermeiras e enfermeiros. No Brasil, esses profissionais já são mais de 2 milhões, 87% deles são do sexo feminino, proporção igual à do resto do mundo. Neste artigo, enfermeira(s) designará essa categoria profissional, independente do sexo. Enfermeiras, incluindo parteiras, são dois terços da força de trabalho na saúde e os médicos, 16%. No mundo, há mais de vinte milhões de enfermeiras, das quais 5,1mi no EUA, 3,8 mi na China, 3,3 mi na Índia e 1,5 mi no Japão.


Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que 2020 seria o Ano Internacional das Enfermeiras e Parteiras.
Em meio à pandemia que nos atingiu, as nossas enfermeiras são anjos que caminham entre os pacientes e têm o poder de iluminar os rostos de crianças, jovens e idosos.  Todos querem segurar suas mãos, sentir o conforto em um momento da vida em que respirar ficou tão difícil, andar ainda mais difícil e chorar e sentir dor passou a fazer parte dos nossos dias. 


Elas curam nossos corpos e nossas almas. Mas quem está cuidando das enfermeiras nesta triste pandemia de COVID-19? 
Os 14 meses de trabalho intenso no tratamento da COVID-19 nos levam a refletir na luta daquelas que estão na linha de frente e que, se forem infectadas pelo vírus – que se reproduz em velocidade espantosa, inclusive em novas variantes – talvez não encontrem leitos ou respiradores e talvez venham a morrer meio à tarefa de cuidar da população.


Segundo Vincent Guilamo-Ramos et al.,  a contribuição efetiva das enfermeiras nesta pandemia resultou do seu longo aprendizado nas quase quatro décadas de existência da AIDS. Também da sua atuação na sequência de epidemias dos últimos 20 anos: Síndrome Respiratória Aguda Grave, de 2002-2003; gripe do Oriente Médio, MERS-CoV, de 2015; Ebola, de 2014-2016; Zika, de 2016; além das recorrentes influenzas.


Algumas enfermeiras marcaram as vidas dos seus pacientes e mudaram a forma de tratar as doenças. Homenageamos aqui todas as enfermeiras, mencionando aquelas que no passado foram verdadeiras guerreiras da saúde como a inglesa Florence Nightingale, a baiana Ana Néri e a musical Ivone Lara. 


A COVID-19 trouxe novos hábitos e protocolos e mostrou a importância de hábitos de higiene para evitar o contágio. 
Florence Nightingale, que cuidou dos soldados britânicos feridos na Guerra da Crimeia, foi pioneira no tratamento e na defesa da higiene nos procedimentos com feridos para acelerar o processo de cura.   Ela ficou conhecida como a “dama da lâmpada”, pois à noite usava uma lamparina para iluminar nos acampamentos, o caminho, os pacientes e as feridas dos soldados. Florence foi uma visionária: antecipou ações que a ciência viria a justificar. Uma década depois que ela disseminou essas medidas de higienização, John Snow mostrou que a cólera era transmitida pela água contaminada e Louis Pasteur desenvolveu a teoria dos germes. Em homenagem à Florence Nightingale, o dia 12 de maio, data de seu nascimento, é considerado o Dia Internacional da Enfermagem. 


Ana Néri não era enfermeira, mas se apresentou como voluntária para cuidar dos feridos na Guerra do Paraguai.  Em sua homenagem a primeira escola oficial brasileira de enfermagem de alto padrão foi denominada Ana Neri. Ela foi considerada a primeira enfermeira no Brasil. 


Ivone Lara, um dos maiores ícones do samba de raiz, cantora e compositora, era também enfermeira e atuou durante muitos anos junto à médica psiquiatra Nise da Silveira, trabalhando para humanizar o tratamento aos doentes.  Ivone Lara compositora nos presenteou com a música “Sonho Meu” e nos encantava com suas canções. A música Alvorecer diz “o que me restou da noite, o cansaço e a incerteza, lá se vão na beleza deste lindo alvorecer”.


Já agora em 2020 e 2021, tivemos e temos centenas de milhares de enfermeiras cuidando dos doentes de Covid-19, num esforço para que a nossa vida não nos seja prematuramente tirada. Sua grande contribuição foi possível pelo aprendizado de habilidades e competências obtidas nos surtos epidêmicos recorrentes dos últimos 40 anos. Elas contribuíram decisivamente para a redução da escala e alcance e melhoria da efetividade das respostas a esses surtos epidêmicos e pandêmicos.  


As enfermeiras oferecem os mais diferentes cuidados à saúde. Durante a pandemia de Covid-19, seus serviços vitais vão desde o rastreamento de contatos de infectados em comunidades até cuidados avançados críticos nas UTIs. Nestas unidades, as enfermeiras cuidam, por exemplo, das hemodiálises, do nível de sedação dos pacientes, de drenagens, de acessos venosos e muitas outras diferentes atividades na área crítica, bastando para tanto apenas estar se comunicando com os profissionais médicos. 


Sob sua liderança nos hospitais, foram desenvolvidos mecanismos de triagem, alocação dos quadros de pessoal conforme especialidades e habilidades e distribuição racional dos materiais e medicamentos escassos. Mas sua importância não fica evidente apenas em pandemias. Os seus serviços são essenciais também nas respostas a desastres e catástrofes. 
São ainda as principais provedoras da atenção primária à saúde em muitos países e responsáveis por sua disseminação. Revisões sistemáticas da literatura pela Cochrane mostram que sua atuação é efetiva tanto no cuidado de doenças infecto contagiosas quanto nas crônicas. Têm importante papel educativo e auxiliam na promoção da saúde e na prevenção de doenças. Seus serviços vão desde tratamento de feridas genéricas e vacinação até atividades especializadas e complexas.  


Por tudo isso, foi emblemático que a primeira vacinada no Brasil tenha sido a enfermeira Monica Calazans: um merecido reconhecimento público do sistema de saúde de São Paulo à contribuição dessa categoria profissional. 


Contribuição, reconheçamos, em ambiente de alto risco de contrair a virose fatal, em meio a tão grave pandemia, ainda sem adesão maciça da população às medidas recomendadas. Podiam ficar em casa, cuidando de si próprias e de seus parentes mais idosos. Em vez disso, escolhem seguir diariamente para seus trabalhos, cientes da gravidade e preocupadas com os riscos reais de infecção e, mais grave ainda, de levarem a doença para suas casas e familiares. Não se trata de medo irracional ou pânico. É um medo real, que nasce dos inúmeros casos de infecção, de apresentações graves da doença e até de mortes, entre estes profissionais tão expostos.


Elas seguem diariamente para seus locais de trabalho porque sabem que lá existem outros seres humanos que precisam delas para respirar, aliviar dores, serem higienizados e confortados. Seguem, mesmo sabendo que as condições de trabalho são muito difíceis, às vezes sem os equipamentos de proteção adequados, sem medicações de sedação, sem materiais, medicamentos e recursos, sem oxigênio e ao final assistindo impotentes os últimos suspiros de seus pacientes.

Viva as nossas enfermeiras!

 

 

Fonte: Nurses at the frontline of public health emergency preparedness and response: lessons learned from the HIV/AIDS pandemic and emerging infectious disease outbreaks. Vincent Guilamo-Ramos et alii. Lancet Infect Dis 2021. Online March 18, 2021 https://doi.org/10.1016/ S1473-3099(20)30983-X. WHO 2020. STATE OF THE WORLD’S Nursing - Nursing roles in 21st-century health systems.

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