Uso de medicamentos por pessoas com sobrepeso # 25
A seção Scientific Reports da prestigiosa revista Nature, de 2 de novembro de 2020, trouxe os resultados de uma pesquisa realizada por brasileiros da Universidade do Estado do RJ, a partir dos microdados da Pesquisa Nacional de Saúde, PNS, do IBGE, de 2013. Os pesquisadores se propuseram a estimar a correlação entre o uso de medicamentos e a obesidade – assunto muito pouco estudado no mundo. Advertem de partida que obesidade é tanto uma doença crônica em si mesma quanto um fator de risco para diversas outras doenças crônicas, conforme já apontamos repetidamente neste blog.
O estudo mostrou claramente que quanto maior o índice de massa corporal maior foi a probabilidade de uso de medicamentos. Os pesquisadores buscaram a associação para nove patologias crônicas incluídas na pesquisa do IBGE e relacionadas à obesidade: diabetes, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, derrames, artrite, reumatismo, doenças renais, doenças pulmonares, dor nas costas e depressão.
Os resultados impressionam. A probabilidade de ter que tratar de uma ou mais doenças crônicas, com pelo menos duas medicações, foi 70% mais alta para pessoas com sobrepeso (IMC entre 25 e 30); 170% maior para pessoas com IMC entre 30 e 35; 340% maior para IMC entre 35 e 40; e 450% mais alta para obesos mórbidos (IMC acima de 40). Isso em comparação com pessoas com peso normal. A conclusão, em palavras simples, foi que a obesidade está relacionada diretamente tanto com a maior utilização de medicamentos quanto com o número de medicações usado para tratar doenças relacionadas à obesidade.
A pesquisa aproveitou dados da PNS/2013 de quase 60 mil entrevistas com pessoas de 18 ou mais anos de idade, amostradas aleatoriamente em cada uma das regiões do Brasil. O excesso de peso afetava a maioria, 57,2%, e um quinto eram obesas. Os maiores percentuais de uso de medicamentos foram para hipertensão (17,4%), dor nas costas (7,4%), diabetes (4,7%) e depressão (4,0%). O número de doenças tratadas com medicações por indivíduo variou de nenhuma para até sete diferentes doenças crônicas.
Os autores exortam para a necessidade urgente de políticas públicas voltadas para conter e reduzir a prevalência de obesidade no País. Para o bem-estar das próprias pessoas, para a preservação de suas capacidades funcionais e econômicas, e para conter o intenso ritmo de crescimento das despesas com saúde, em uma sociedade ainda relativamente jovem e não enriquecida.