Dia mundial da Obesidade # 19
Dia 4 de março é o Dia Mundial da Obesidade. Foi decisão da World Obesity Federation, WOF, no começo do ano passado. Até 2019, a data era 11 de outubro. Foi alterada para que tenha mais destaque, pois em outubro, costumeiramente há superposição com muitas outras atividades.
Não é uma data comemorativa. Obesidade não é para ser comemorada. Por que então o Dia Mundial da Obesidade? Por razões compreensíveis. O do ano passado teve como objetivos, primeiro, chegar à tolerância zero para o estigma do peso e, segundo fazer com que a obesidade seja reconhecida como doença e, portanto, seja tratada de forma correta.
Mais do que isso, a literatura é farta nas demonstrações de que a obesidade leva ao desenvolvimento de várias outras enfermidades, já mencionadas em diversos de nossos blogs. Não vamos repeti-las aqui. Entretanto, nunca é demais lembrar que essas enfermidades derivadas da obesidade encurtam os tempos de vida, diminuem sua qualidade e aumentam os gastos com saúde.
Podemos ir além. Uma razão importantíssima para esse Dia Mundial é que o mundo vive uma epidemia de obesidade. O número de pessoas com sobrepeso ou obesas vem aumentando muito rapidamente. Nos Estados Unidos já chega a obesidade já passa de 40%. No Brasil, a prevalência do sobrepeso aumentou 22% e a obesidade em mais de 50% entre 2008 e 2018. Ritmo ainda mais intenso é observado em muitos outros países do mundo. Podemos e devemos, coletivamente, mudar essa tendência, preservarmos tempos de vida, preservarmos qualidade nos anos que viveremos e evitarmos que os custos com saúde fiquem insustentáveis.
As pessoas com sobrepeso ou obesas não devem ser discriminadas. Tampouco tratadas somente com compaixão. Devem, isso sim, receber os tratamentos adequados, que vão desde um diagnóstico preciso de suas causas até as terapias recomendadas. Pessoa a pessoa, porque cada ser humano é único em suas caraterísticas biológicas, em sua história, espiritualidade, crenças, cultura. Muitos são os fatores primários que desencadeiam o aumento de peso. Mas quase todos eles passam pela prática de estilos de vida inadequados, especialmente alimentação disfuncional e inatividade física. Note-se que não basta o profissional assistente constatar que o conteúdo da alimentação de seu paciente é a origem do sobrepeso e obesidade. É preciso entender, pela análise de sua história, cultura, religiosidade, ambiente em que vive, atenção recebida dos pais desde a concepção, o que leva seu paciente a uma alimentação disfuncional e ao sedentarismo.
Será preciso apontar os equívocos alimentares, mas também encaminhar para a previa solução dos motivadores mentais dos estilos que lhe são prejudiciais.
Vale aqui mencionar o ponto de vista relatado por Ursula Snyder: o sobrepeso não saudável, embora tenha muito a ver com a forma como vivemos como indivíduos, parece que está profundamente determinado pela forma como vivemos como sociedade. Na mesma linha está a observação de Drewnowski: a escalada da obesidade tem sido tradicionalmente discutida em termos de biologia, fisiologia e comportamento, mas a discussão precisa incluir o papel da economia e das políticas sociais. A pesquisa de Drewnowski para a sociedade americana mostra que a pobreza associada com a obesidade é determinada pelo preço da energia dos alimentos: alimentos de maior densidade energética (com adições de açúcar e gorduras) têm custo por caloria mais baixo. Mas saciam a fome. E são agradáveis ao paladar. O consumo de alimentos calóricos pelas pessoas de baixa renda é uma estratégia para que sobre mais dinheiro para as outras necessidades domésticas. Diz Ursula que os alimentos promotores da obesidade dos pobres são simplesmente aqueles que oferecem a maior energia ao menor custo.
É preciso entender que não se trata de escolhas insanas por parte das pessoas de menor renda, mas de escolhas limitadas por questão de sua renda. “Pessoas não são pobres por escolha própria, mas elas se tornam obesas por serem pobres”. De notar que a obesidade também prevalece nas sociedades mais ricas (ex., Estados Unidos) e nas camadas mais ricas das nações. Para essas, as escolhas inadequadas resultam de desconhecimento ou serem simplesmente insanas, tendo pouco a ver com o custo dos alimentos saudáveis!
O enfretamento do sobrepeso e da obesidade requer tanto o envolvimento do indivíduo e dos seus profissionais assistentes quanto do setor público. Do indivíduo para que supere eventuais traumas que o levam a estilos de vida inadequados; do seu assistente para bem identificar as causas-raiz. Do setor público para que desenvolva as políticas que facilitem a vidas das pessoas, especialmente daquelas que entenderam as consequências de serem obesas, que estão convencidas de que precisam mudar e que desejam objetivamente mudar. Ao setor público compete disponibilizar os meios.
Fonte:
Ursula Snyder, PhD, Site Editor/Program Director, Medscape Ob/Gyn & Women's Health. Fonte:
http://www.medscape.com/viewarticle/469027
Poverty and obesity: the role of energy density and energy costs. A. Drewnowski and SE Specter. Fonte: