COVID-19 - Pesquisas sobre recuperação # 36

Enviado por Seed4Life em ter, 24/08/2021 - 10:30
# 36

A Pandemia de covid-19 trouxe muitas incertezas, como comentamos em post anterior. Uma delas é o porquê de algumas pessoas infectadas não terem sintomas, outras terem sintomas leves, comparados a uma gripe, enquanto outros tem sintomas muito fortes, precisando de hospitalização, intubação e algumas infelizmente vindo a óbito.


Estudos recém publicados trazem esclarecimentos com relação a este tema. E já adiantamos, estão relacionados a um padrão alimentar mais baseado em plantas.


A primeira pesquisa  foi realizada em 6 países, com trabalhadores da saúde, comparando a dieta dos participantes com a gravidade da covid-19. Foram divididos em dois grupos. O primeiro com uma dieta mais baseada em plantas e outro grupo com uma dieta menos baseada em plantas.  O resultado foi que aquele com a dieta mais baseada em plantas teve 73% menos risco de ter a forma grave de covid-19, comparado ao outro grupo.


Este resultado confirma a importância da alimentação baseada em plantas. Ela ajuda a manter controladas, ou evitar a progressão das doenças crônicas, como pressão alta, diabetes, doenças coronárias, colesterol alto etc. Doenças estas que são consideradas comorbidades que aumentam o risco da pessoa ter a forma grave de covid-19.
Outro achado desta pesquisa foi que aqueles seguindo uma dieta com pouco carboidrato, conhecida como dieta low-carb, na qual o consumo de fibras tende a ser baixo enquanto o de produtos de origem animal muito alto, tiveram 48% mais risco de ter a forma grave da doença. 


O outro estudo  que acabou de ser publicado, foi realizado nos Estados Unidos e no Reino Unido, com mais de quinhentos mil participantes, 592.571 para ser exato. Foram utilizados aparelhos smartphones para rastrear sintomas enquanto os participantes respondiam a um questionário de frequência alimentar. Este questionário continha perguntas como: quantas vezes por semana você come carne, queijo, leite? ou quantas vezes por dia você come brócolis, espinafre, frutas?
Assim foram também divididos em dois grupos: aqueles que tinham uma alimentação mais baseada em plantas, e outro grupo com alimentação menos baseada em plantas.


De todos participantes do estudo, 31.815 tiveram covid-19. O resultado deste estudo mostrou que o grupo de alimentação mais baseada em plantas teve 9% menos risco de ter covid-19 em geral. Um número não muito alto mas já significativo. Já o resultado para as formas graves da doença foi bem mais significativo, sendo que o grupo de alimentação mais baseada em plantas teve 41% menos risco.

Estes achados se relacionam com os fatos de que uma alimentação baseada em plantas têm níveis equilibrados e adequados de macronutrientes, como a proteína, e é rica em nutrientes como, vitaminas, minerais, fitoquímicos, antioxidantes, anti inflamatórios, fibras, pré e probióticos, etc.

Estes últimos formam o que chamamos de microbiota. São os seres que habitam em nós, como as diversas bactérias, fungos, leveduras, e até mesmo vírus. Estes têm um papel fundamental em nosso sistema imunológico, que explicaremos a seguir.

O pesquisador microbiologista Kiran Krishnan  explica a frase comumente ouvida de que 70% do nosso sistema imune está nos intestinos.


Segundo ele, o sistema imunológico está continuamente se adaptando. Nascemos com ele completamente ingênuo, sem condição de funcionar. Ele faz isso para se adaptar às diferentes condições ambientais de cada um. Enquanto amadurece ele se adapta através da leitura e amostragens do ambiente a sua volta. E isto só é possível através do micro bioma, o conjunto de seres que vivem em nós, principalmente nos intestinos, que é quem interpreta as informações que chegam até lá. Resumidamente funciona assim: as milhões de bactérias, leveduras etc. estão continuamente verificando seu redor para presença de organismos não desejáveis, potencialmente nocivos. Quando, por exemplo, entramos em contato com um vírus da gripe, o micro bioma é quem avisa, enviando sinais para nosso sistema imune de que algo está errado ali. E ele faz isso através de marcadores inflamatórios.


Existe um tipo de células chamadas de linfócitos T, que são responsáveis pela defesa de nosso organismo contra agentes desconhecidos, tendo como principal papel a imunidade específica. Estas células são reguladas também pelo micro bioma para aprenderem que aquele vírus é um alvo, e é ali que devem prestar atenção construindo imunidade no caso de uma futura exposição. Essas células T também regulam o que não devem atacar, como as bactérias boas, ou células saudáveis. Isto, claro, estamos falando de um ecossistema microbiológico saudável, com os tipos certos de bactérias.


O que acontece quando ele não está saudável, o que chamamos de disbiose, é que as bactérias disfuncionais, ou não enviam nenhum sinal, ou mandam todo tipo de sinais de alerta, confundindo e distraindo o sistema imune.
Quando seu sistema imune não tem uma resposta em um tempo apropriado, por não estar recebendo sinais do micro bioma, ou por estar recebendo muitos sinais aleatórios como no caso dito acima, o que acontece é que o patógeno, agente potencialmente causador de doença, tem uma chance muito maior de se multiplicar em números gigantes. No caso da Covid, nas pessoas que têm doenças crônicas, quando entram em contato com o vírus, seu sistema imune não sabe imediatamente o que está acontecendo, enquanto isso o vírus se multiplica rapidamente a números muito altos. E a pessoa segue sem sintomas, já que o que causa os sintomas não é o vírus em si, mas a resposta imunológica ao vírus. Quando o sistema imune finalmente se dá conta, sua resposta é assustadoramente grande já que a infecção já está muito maior. E essa reação muito forte é o que causa os sintomas fortes que aparecem quase de repente na pessoa infectada.


Agora, por que o sistema imune dessas pessoas com doenças crônicas não recebeu aviso nas primeiras horas ou dias do contato com o vírus? Bom, vimos que quem envia os sinais é o micro bioma, as bactérias boas, que produzem marcadores inflamatórios, como as citocinas, ou estimulam as células vizinhas a produzir esses marcadores, que assim são enviados ao sistema imune para avisar que algo está errado naquele local. 


Os portadores de doenças crônicas estão constantemente em um estado de inflamação, de baixo grau, porém de forma contínua. Desta forma o sistema imune está a todo o tempo recebendo sinais de marcadores inflamatórios no corpo inteiro, ficando assim mal direcionado, levando muito mais tempo para responder a uma ameaça específica.


O pesquisador faz uma analogia para exemplificar melhor isso. Imagine que em uma rua com 500 casas, há uma pegando fogo. E nesta casa tem um alarme de incêndio que dispara quando o fogo começa. O carro dos bombeiros chega a esta rua e logo percebe qual casa está incendiando, e apaga o fogo já no início, antes que maiores danos sejam causados. Agora imagine uma outra situação em que nesta mesma rua há uma casa pegando fogo, porém todas as 500 casas estão com alarme de incêndio disparados. Os bombeiros chegam à rua, e irão levar muito mais tempo para identificar qual a casa que está pegando fogo. Provavelmente só irão identificar quando o fogo estiver bem alto e assim o estrago será bem maior.


Vejam, até no caso de uma doença causada por um vírus, como a covid-19, uma alimentação saudável, baseada em plantas é fundamental na ajuda da prevenção, e no caso de infecção, a se ter uma resposta melhor para a doença, e uma recuperação também melhor.


Cuidem-se. Está ao alcance de cada um de nós. Siga nos acompanhando pela Seed4Life e veja as várias linhas de pesquisa que relacionam um micro bioma com bactérias amigas e seus estado de saúde.

 

 

 

Fonte: 

Kim H, Rebholz CM, Hedge S, et al. Plant-based diets, pescatarian diets and COVID-19 severity: a population-based case-control study in six countries. BMJ Nutrition, Prevention & Health 2021. Doi:10.1136/bmjnph-2021-000272.

Merino J, Joshi AD, Nguyen LH. Diet quality and risk and severity of COVID-19: a prospective cohort study. medRxiv 2021.06.24.21259283. doi: https://doi.org/10.1101/2021.06.24.21259283

Traduzido de “The Microbiome, Your Immune System, & COVID-19” - entrevista com Kiran Krishnan disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=oSb064e5a7o

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