Alimentação vegetariana, vegana ou baseada em plantas? # 27
Definidos como padrões de alimentação humana, podem parecer irmãos, ou pelo menos primos. De fato, as três modalidades defendem desde a redução até a eliminação completa do consumo de proteína animal.
Por trás dessa semelhança - que os torna irmãos ou primos na aparência - escondem-se, na verdade, grandes diferenças.
Vegetarianos e veganos excluem por completo o consumo de carnes, mas os primeiros admitem consumir derivados de animais que fornecem proteínas, mas permanecem vivos como ovos, mel, leite e derivados. Já os veganos não admitem nem estes derivados – nada de origem animal, pois não se conformam com a utilização de animais para a obtenção de qualquer tipo de benefício seja ele nutricional ou material, considerando isto uma forma de escravidão.
Note-se, no entanto, que a dieta vegetariana ou vegana pode não excluir o açúcar, as farinhas brancas, os alimentos industrializados ou ultra processados e as frituras, portanto estas dietas podem ter mais compromisso com princípios éticos do que a saúde humana em si.
Já a alimentação baseada em plantas recomenda que se consumam produtos de origem vegetal, naturais, frescos e orgânicos e que se evitem os industrializados, especialmente os ultra processados, mesmo que de origem vegetal. Como afirma o Dr. Alberto Gonzalez, “consuma se puder descascar o que tem casca e evite se tiver que desembalar/desembrulhar”. Há, portanto, uma grande diferença, pelo menos conceitual, entre alimentação vegetariana ou vegana e a baseada em plantas.
Volumes crescentes de publicações científicas recomendam mudanças nos estilos de vida, especialmente os hábitos alimentares. Três são os principais motivos apontados para a conveniência ou mesmo a necessidade de mudar o padrão alimentar: a sua saúde, o bem estar animal e o meio ambiente. Hoje, as mais importantes e sérias publicações alertam que não há o certo e o errado no padrão alimentar que cada um de nós adota, mas argumentam que o padrão que de fato seguimos pode ser benéfico ao nosso corpo e saúde ou ser definitivamente maléfico e prejudicial.
No passado, a fome e a desnutrição eram os desafios que a humanidade enfrentava. Hoje, com a maior abundância e variedade de alimentos, o excesso de peso - junto com um novo tipo de desnutrição - passou a ser o maior desafio. Substituímos progressivamente os alimentos naturais e produzidos perto de casa por alimentos industrializados, que podem ser armazenados por longos períodos, até maiores do que as entressafras, e estocados no comércio e em casa. Ganhou-se em comodidade, volume e disponibilidade o ano inteiro, mas ganhamos alimentos vazios. Adicionalmente, o uso indiscriminado de aditivos alimentares consegue converter o paladar para algo muito atrativo, gerando vícios e compulsões alimentares.
No processo industrial perdem-se nutrientes e ganham-se calorias, aditivos, estabilizantes, corantes, aromatizantes. O efeito do padrão alimentar industrializado, notado em todo o mundo, vem sendo o alarmante crescimento do número de pessoas com excesso de peso ou obesidade, que, como se sabe, carregam consigo o crescimento da diabetes, da hipertensão, dos problemas articulares, da depressão, da ansiedade e até, segundo novas evidências científicas, de certos tipos de câncer. Portanto, temos aqui um importante motivo para mudar. Mais ainda, para que trabalhemos de forma cooperativa e participativa influenciando os governos a desenharem e implantarem políticas voltadas para uma nutrição saudável, que ao cabo, levem à perda de peso e melhora geral do estado de saúde das populações.
O segundo motivo tem a ver com a crescente defesa do bem estar animal. Procura lembrar que para produzir proteínas e outros nutrientes, o animal vive confinado, ingerindo forçadamente grandes quantidades de ração para formar massa muscular. Ainda se questionam os efeitos no ser humano do consumo de proteína de animais que viveram em estado de permanente insatisfação.
Parece lunático? Pode ser. No entanto, lembremos que o conceito de democracia foi adotado na Grécia antiga, em contradição à escravidão, abertamente admitida e praticada. Ou a polêmica Constituição dos Estados Unidos de 1776, que preconizou a liberdade de todos os seres humanos - menos os escravos. Foram décadas até que a escravidão fosse abolida naquele país. O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão. Chegaremos algum dia a ponderar com maior rigor o que poderíamos chamar de direitos dos animais? Definitivamente, isso não é lunático. Até mesmo porque no Brasil já é previsto em lei o crime de maltrato a animais.
O terceiro tem a ver com o impacto ambiental da produção de proteína de origem animal. Produzir uma unidade de proteína animal põe sobre o meio ambiente uma demanda de recursos uma ordem de grandeza maior – mais água, maior área cultivável, maior emissão de gases de efeito estufa, mais espécies (animais e vegetais) afetadas ou ameaçadas de extinção. Os cientistas nos advertem que quase um terço dos gases de efeito estufa têm origem na produção de alimentos, especialmente de proteína animal. Eles estimam que se os ritmos de emissão continuarem como estão, em poucas gerações o planeta terra poderá perder sua capacidade de manter vida superior – na qual se inclui a vida humana como a conhecemos hoje.
Estas são as principais razões pelas quais nota-se um movimento crescente em diversas partes do mundo no sentido de se adotar padrões alimentares que ao mesmo tempo sejam benéficos para nossa saúde, para o bem estar animal e para o meio ambiente. Está ao nosso alcance. Se quisermos delegar a nossos filhos e netos um planeta sustentável, com populações bem nutridas e saudáveis, precisamos começar essa mudança a partir de nossos hábitos e estilos de vida.
(Esse blog é de discussão e baseado nas fontes já citadas nos blogs anteriores, razão pela qual não as reproduzimos aqui).